Barómetro: as ‘histórias’ noticiosas de julho de 2022

A amostra do barómetro de notícias MediaLab-Priberam está maior e mais diversificada. Desde julho inclui órgãos de comunicação social especializados em economia e desporto. Inclui também imprensa regional. Com a nova amostra os dados evidenciaram, sobretudo, o mercado de transferências no futebol profissional. Os incêndios florestais estão de regresso às notícias e o congresso do PSD foi responsável pelo aumento da exposição da política nacional.

Por Ana Pinto Martinho e Décio Telo

A versão integral deste relatório está disponível em PDF.

Roger Schmidt, durante o primeiro treino aberto do SL Benfica
Roger Schmidt, durante o primeiro treino aberto do SL Benfica, Lisboa, 03/07/2022 (ANTÓNIO COTRIM/LUSA)
Luís Montenegro no congresso do PSD
Luís Montenegro no congresso do PSD, Porto, 03/07/2022 (ESTELA SILVA/LUSA)
Combate ao fogo em Benespera, Guarda.
Combate ao fogo em Benespera, Guarda, 07/07/2022 (MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA)

As ‘histórias’ que marcaram as notícias online

Incêndios florestais

O calor extremo que atingiu Portugal e outros países europeus (que não apenas as regiões do sul) trouxe os primeiros grandes incêndios florestais.

A narrativa jornalística da cobertura destes acontecimentos incidiu nos meios mobilizados e combate nas fases de maior impacto e, com menor expressão, na reflexão sobre causas e ligação dos desastres às alterações climáticas. Neste mês foram os fogos nos distritos da Guarda e Santarém que preencheram o espaço mediático com títulos ilustrativos como “Fogo na Guarda corta A23 e mobiliza quase 370 bombeiros” (JN online, 7/7/2022) e “Grande incêndio de Ourém está em resolução. Um homem detido” (CNN Portugal, 11//2022). A seca extrema e o clima não chegaram a ter expressão temática (clusters), de acordo com os dados fornecidos pelo algoritmo.

A narrativa da guerra na Ucrânia manteve a mesma linha do mês anterior, mas em proporções diferentes. Houve um incremento de artigos sobre operações e ações militares (clusters destacados a azul no gráfico abaixo), que este mês representaram, aproximadamente, duas em cada três notícias sobre a Ucrânia. A crise alimentar e o risco de fome global teve um impacto menor (21%), no mês anterior este tema tinha representado aproximadamente 50% da subamostra.

Congresso do PSD e Luís Montenegro

A ascensão de Luís Montenegro no congresso do PSD foi muito noticiada em julho e está na origem do aumento da política nacional em termos relativos, face ao mês anterior. Só em janeiro de 2022, a política tinha superado a situação na Ucrânia em quantidade de artigos publicados

Para além deste acontecimento político, Marcelo Rebelo de Sousa foi também coprotagonista, não tanto devido à sua agenda na visita ao Brasil mas, principalmente, pelo episódio criado por Jair Bolsonaro ao cancelar o encontro com o Chefe de Estado português.

Ucrânia e pandemia sem grande visibilidade

A cobertura da guerra na Ucrânia e a pandemia perderam expressão quantitativa, na amostra. O ataque russo em Odessa reuniu o maior número de publicações, no primeiro caso. A diminuição de infeções por COVID-19 foi a informação sobre a pandemia mais publicada na comunicação social.

O desporto, em particular o futebol, teve uma expressão superior aos meses anteriores. Este aumento explica-se, em parte, pelo alargamento da amostra que passou a incluir os três órgãos de comunicação social desportivos com mais artigos publicados. Mas a pré-época tem, tradicionalmente, um valor-notícia elevado, reforçado por estarmos em período de férias generalizadas.

Clusters de notícias com maior destaque online

O quadro acima permite visualizar a proporção de cada agrupamento de notícias (cluster) no conjunto dos 41 clusters que mais se destacaram neste mês. Estes resultam de um trabalho de análise e reagrupamento semântico realizado no conjunto, mais alargado, de 50 clusters, identificados pelo algoritmo da plataforma Priberam. Esta operação de reagrupamento é realizada com recurso a metodologias de análise de conteúdo. Deste trabalho resulta que a quantidade de clusters apurados, no relatório, é sempre igual ou inferior ao ‘top 50’ gerado pelo algoritmo.

Apesar da elevada precisão dos clusters classificados automaticamente pelo algoritmo (cf. Miranda et al, 2018), alguns deles podem apresentar características polissémicas, por diversos motivos, tornando difícil a tomada de decisão final quanto à inclusão num determinado cluster, pelo que a opção metodológica que nos parece mais adequada é considerar, apenas, os clusters que demonstram homogeneidade do ponto de vista do assunto identificado, acontecimento ou ‘história’ relatada.

Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.

Descrição da amostra

Para a redação deste relatório foram considerados 5821 artigos, publicados em 29 fontes de informação jornalística[1], selecionados a partir de um total de, aproximadamente, 310 449 artigos.

A recolha de dados é executada na plataforma Priberam e a organização das histórias noticiosas, em clusters, processa-se em dois passos: Um primeiro agrupamento é efetuado pelo algoritmo, que devolve um ‘TOP 50’ com os clusters mais publicados. Num segundo momento procede-se ao reagrupamento desse ‘TOP 50’, com recurso a técnicas de análise de conteúdo, que permitem uma observação ‘fina’ dos dados, resultando no quadro final de clusters apresentado neste relatório.

Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.

A versão integral deste relatório está disponível em PDF.

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[1] A Bola, Açoriano Oriental, CNN Portugal, Correio da Manhã, Diário Regional Região Sul, DN, DN Madeira, ECO, Expresso, Jornal de Negócios, Jornal de Notícias, Jornal Económico, Jornal I, Jornal SOL, Mais Ribatejo, Multinews, Notícias ao Minuto, Notícias de Coimbra, O Jogo, O Minho, Observador, Público, Rádio Renascença, Record, RTP, SIC Notícias, TSF, TVI24, Visão.