Relatório de Prospetiva: Cenários para a Sucessão do Papa Francisco

Usando Sinais Fracos, Simulações de Votação e Construção de Cenários

Gustavo Cardoso e Carlos Picassinos
Abril de 2025

 

Relatório de Prospetiva: Cenários para a Sucessão do Papa Francisco

 

Sumário Executivo

Este relatório prospetivo explora possíveis cenários para a sucessão do Papa Francisco, aplicando ferramentas de futures thinking como análise de sinais fracos, simulação estratégica e modelagem da dinâmica de votação.

Com base nos perfis de 22 papabili (potenciais candidatos), o relatório combina critérios qualitativos e dados simulados do conclave para identificar caminhos plausíveis para os resultados da eleição papal.

O objetivo é captar a complexidade de um processo moldado por expectativas teológicas, dinâmicas globais da Igreja e realinhamentos de facções dentro do Colégio de Cardeais.

Neste exercício foram desenvolvidos 3+1 cenários prospectivos com o objectivo de determinar a menor ou maior probabilidade de eleição de um dos 22 cardeais papabili como sucessor de Francisco.

O relatório apresenta 3 cenários, cada um deles com três potenciais papabili. Sendo o cardeal papabili mais vezes repetido nos cenários aquele que reúne mais possibilidades de eleição final.

Adicionalmente, no caso de surgir algum cardeal papabili português, como foi o caso de Tolentino de Mendonça, foi desenvolvido um cenário adicional que procura responder à pergunta: o que é necessário para Tolentino de Mendonça ser eleito Papa no conclave.

Os três cenários iniciais foram construídos tendo por base o conclave de 2013 onde ocorreu a eleição de Francisco, já o cenário adicional foi desenvolvido com base no conclave que levou à eleição de João Paulo II.

O primeiro cenário é o da “Continuidade” para com o papado anterior de Francisco e incluí como os três mais provavéis cardeais candidatos à escolha para próximo Papa: Matteo Maria Zuppi, Arcebispo de Bolonha (Candidato da Paz);

Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano (Candidato da Curia); e Luís António Tagle, ex-arcebispo de Manila, Filipinas e actual Prefeito do Dicastério para a Evangelização (Candidato Evangelizador).

O segundo cenário é o da “Surpresa” e incluí como os três mais provavéis cardeais candidatos à escolha para próximo Papa: Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano (Candidato da Curia); Fridolin Ambongo Besungu, Presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagascar (Candidato do Sul Global); e Jean-Marc Aveline, Arcebispo de Marselha (Candidato da Proximidade e Diálogo).

O terceiro cenário foi criado com base na identificação de sinais fracos entre os 22 cardeais papabili referentes às seguintes dimenções: Alinhamento com as prioridades emergentes da Igreja (por exemplo, sinodalidade, ecologia, justiça social, evangelização); Representação de periferias (geográficas, ideológicas, institucionais); Influência inesperada ou perfil em ascensão; Liderança em contextos de crise ou transição cultural; Capacidade de diálogo entre reformistas e conservadores.

O terceiro cenário é designado como a “Força dos Fracos” e inclui os três mais prováveis cardeais candidatos à escolha para próximo Papa: Jean-Marc Aveline, Arcebispo de Marselha (Candidato da Proximidade e Diálogo); Matteo Maria Zuppi, Arcebispo de Bolonha (Candidato da Paz); e José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Candidato da Empatia).

Nenhum dos cardeais presentes nos três cenários está presente em mais do que dois cenários. Os cardeais papabili que estão presentes em dois dos três cenários prospectivos foram, respectivamente: Jean-Marc Aveline, Arcebispo de Marselha (Candidato da Proximidade e Diálogo); Matteo Maria Zuppi, Arcebispo de Bolonha (Candidato da Paz) e Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano (Candidato da Curia).

Ao introduzir uma simulação de votação estratégica com os candidatos presentes nos três cenários e uma majoração estratégica para candidatos surpresa, o resultado prospectivo apurado foi a eleição de Jean-Marc Aveline, Arcebispo de Marselha (Candidato da Proximidade e Diálogo).

Nesta simulação de votação estratégica, José Tolentino de Mendonça foi o terceiro mais votado com 15 votos na ronda final de votação. Perante este resultado foi colocada a questão sobre o que seria necessário para poder vencer a votação e ser eleito Papa.

A resposta a essa pergunta implica a repetição de um contexto similar ao do conclave de 1978 que elegeu João Paulo II, ou seja, um cenário de “Ruptura” com o passado. Para tal, teriam que ocorrer um conjunto de acções e eventos, tanto directamente geríveis por si e seus potenciais apoiantes, como autónomas da sua decisão.

Assim, uma potencial vitória do cardeal José Tolentino de Mendonça necessitaria de uma reconfiguração da sua imagem perante os seus pares, de poeta a profeta, como uma voz profética para um mundo ferido, um Papa que compreendesse a alma da humanidade em crise e não só das instituições da Igreja.

O cardeal José Tolentino de Mendonça necessitaria igualmente de formar alianças estratégicas pré-conclave unindo blocos diversos. Nomeadamente, unir os moderados curiais que não pretendem rupturas, os cardeais do sul global que valorizam a perspectiva lusófona e os europeus que apreciam a sua inteligência e ausência de radicalismo.

Na dimensão externa ao controle dos papabili teria de ocorrer no próximo mês uma crise internacional envolvendo religião e cultura, bem como um conjunto de escândalos ou impasses institucionais na Cúria.

No próprio processo eleitoral do conclave, teria de ocorrer uma viragem decisiva nas expectativas face às votações em Matteo Zuppi e Jean-Marc Aveline. Tal implicaria que um grupo de cardeais latino-americanos alavancassem Tolentino como um unificador silencioso. Pois seriam necessários cerca de 45 votos iniciais para que as probabilidades de vencer sejam elevadas.

Para uma potencial eleição, o Cardeal Tolentino de Mendonça necessitaria de cerca de 20 a 25 votos de um bloco lusófono e cultural curial, junto a 10 a 15 votos de cardeais da América Latina cansados de polarização, mais 10 votos da Europa equidistante e, por fim, o apoio dos cardeais da África e Ásia apoiando um candiato que escuta e tem perfil global.

Pelas razões expostas nos parágrafos anteriores, embora nada seja impossível, a eleição de um cardeal português como próximo Papa afigura-se como particularmente díficil e pouco provável à data deste relatório.

No entanto, a partir do momento que se entrar na sala do conclave e este tiver início todas as considerações anteriores podem desvanecer-se. Pois tudo dependerá de até que ponto a decisão humana e a sucessão guiada pelo Espírito Santo se alinharem.

 

Autores

Gustavo Cardoso é Professor Catedrático de Ciências da Comunicação no Iscte-IUL, Investigador do CIES-Iscte, responsável pelo MediaLab e tem trabalhado na teorização e aplicabilidade da metodologia de Weak Signals-Sinais Fracos a cenários eleitorais.

Carlos Picassinos é doutorando em Ciências da Comunicação no Iscte-IUL e investigador no MediaLab. Foi correspondente do Público em Roma, e no Vaticano, durante o pontificado de João Paulo II. Trabalhou na Rádio Vaticano e escreveu de Macau sobre o fenómeno religioso na China e na Ásia. Colaborou ainda com o 7Margens, jornal digital de religiões, espiritualidades e culturas.