O MediaLab analisou a presença do tema “Coronavírus” nas notícias e nas redes sociais em Portugal no primeiro mês de incidência da epidemia. As narrativas desinformativas internacionais não tiveram grande repercussão em Portugal até ao momento e as redes sociais são em geral críticas da dramatização sugerida pelos media.
Como se propagaram as notícias sobre o Coronavírus em Portugal? Como é que as informações passaram para as redes sociais? A desinformação internacional sobre este tema já chegou ao nosso país? Para procurar responder a estas questões - e outras – o MediaLab reuniu os contributos de vários investigadores, usando diversas ferramentas de pesquisa para produzir um relatório sobre os primeiros 30 dias da epidemia em Portugal.
Este relatório – intitulado “Informação e desinformação sobre o Coronavírus nas notícias e nas redes sociais em Portugal” - analisa a presença do tema “Coronavírus” nas pesquisas Google, nas notícias e nas redes sociais desde janeiro deste ano, mas com maior ênfase nos 30 dias anteriores a 2 de Março, o dia em que foram confirmados oficialmente os primeiros casos da doença em Portugal.
As principais conclusões podem ser sintetizadas do seguinte modo:
• As pesquisas e as publicações nas redes sociais seguem um padrão muito semelhante entre si, com um pico significativo, quer de pesquisas, quer de publicações nas redes sociais nos últimos dias de fevereiro e sobretudo depois da confirmação dos primeiros casos em Portugal;
• A cobertura noticiosa, por seu lado, parece bastante mais intensa e permanente do que o reflexo que ela tem nas pesquisas ou nas redes sociais. Ou seja, pelo menos até ao surgimento dos primeiros casos em Portugal, este foi um assunto que parece ter sido sobretudo promovido pela agenda dos media. Muitas das publicações mais virais nas redes sociais correspondem a memes apontando à cobertura demasiado dramática dos media;
• A análise da cobertura dos jornais televisivos, durante o período considerado, confirma essa ideia, com uma grande presença do tema a partir de meados de janeiro, mas com uma crescente intensidade (medida em tempo a ele dedicado) a partir do final de fevereiro;
• A desinformação não parece ter tido um papel muito relevante no que se refere ao tema “Coronavírus” em Portugal. Os exemplos que existem de desinformação acontecem sobretudo em páginas de Facebook (e menos em grupos) e tendem a ter base em narrativas de desinformação internacionais sobre o vírus, importadas dos EUA;
• No entanto, embora não seja detectável desinformação propriamente dita, dentro dos grupos de Facebook que monitorizamos existe um volume significativo de posts de spin político, procurando atribuir às autoridades políticas portuguesas a responsabilidade pelas falhas de prevenção ou tratamento da epidemia que alegadamente são apontadas;
• No YouTube existem muitos vídeos internacionais sobre o tema, alguns com narrativas de credibilidade duvidosa, mas na generalidade dos casos são pouco relevantes em Portugal;
• No essencial, a análise do fenómeno “Coronavírus” nos media e durante os últimos meses, evidencia uma agenda mediática muito sobrecarregada, em permanência, a partir de janeiro, mas as pesquisas e redes sociais apenas despertam para o tema a partir dos primeiros casos confirmados.
Esta investigação faz parte do projeto de "Monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais" do CIES-IUL. Participarem neste relatório os investigadores Gustavo Cardoso, Ana-Pinto Martinho, Décio Telo, Inês Narciso, José Moreno, Miguel Crespo, Nuno Palma, Rita Sepúlveda.