A guerra na Ucrânia mantém-se como tema mais noticiado online, em órgãos de comunicação social generalistas. O massacre na escola Robb Elementary, no Texas, e a varíola dos macacos, em Portugal, geraram grande número de textos publicados mas, em maio, o campo das notícias caracteriza-se por uma certa fragmentação temática.
Por Ana Pinto Martinho, Décio Telo e Gleice Luz
A versão integral deste relatório está disponível em PDF.
As ‘histórias’ que marcaram as notícias online
O destaque da guerra num mês pouco tematizado
Estima-se que uma em cada três notícias publicadas online nos órgãos de comunicação social generalistas terá sido sobre a guerra na Ucrânia, com base nos dados disponíveis. Se considerarmos o peso relativo no conjunto dos documentos considerados na análise, podemos estar perante uma certa estabilização quanto ao número de textos publicados mensalmente sobre a Ucrânia.
Identificámos duas matérias predominantes na narrativa mediática sobre a guerra na Ucrânia, em maio. Metade dos documentos incidem sobre operações e ações militares (clusters destacados a azul no gráfico abaixo). A outra metade é constituída por quatro clusters povoados com ‘histórias’ sobre as consequências e efeitos da guerra a uma escala global, com especial foco nas crises alimentar e de abastecimento de gás e petróleo, tendo como pano de fundo sanções e embargos à Rússia.
O sofrimento humano e as armas nos EUA
No dia 24 de maio, 19 crianças morreram num ataque com arma de assalto em Uvalde, Texas, EUA. O atentado aconteceu numa escola primária e morreram, também, duas professoras e o atacante armado, de 18 anos. Este acontecimento e o problema da venda de armas de assalto nos EUA provocaram, como seria de esperar, uma cobertura jornalística muito intensa, em todo o Mundo. Portugal não foi exceção e este acontecimento gerou, aproximadamente, 17 artigos por dia.
Os temas que restam, fragmentados
O mapa visual das ‘histórias’ noticiosas surge com muitos clusters tematicamente desassociados (quadros destacados em tom cinza, abaixo), resultado, em parte, da ausência de acontecimentos agregadores nos domínios da política nacional e da pandemia, per se, ao contrário do que tem sucedido em períodos anteriores.
Clusters de notícias com maior destaque online
O quadro acima permite visualizar a proporção de cada agrupamento de notícias (cluster) no conjunto dos 43 clusters que mais se destacaram neste mês. Estes resultam de um trabalho de análise e reagrupamento semântico realizado no conjunto, mais alargado, de 50 clusters, identificados pelo algoritmo da plataforma Priberam. Esta operação de reagrupamento é realizada com recurso a metodologias de análise de conteúdo. Deste trabalho resulta que a quantidade de clusters apurados, no relatório, é sempre igual ou inferior ao ‘top 50’ gerado pelo algoritmo.
Apesar da elevada precisão dos clusters classificados automaticamente pelo algoritmo (cf. Miranda et al, 2018), alguns deles podem apresentar características polissémicas, por diversos motivos, tornando difícil a tomada de decisão final quanto à inclusão num determinado cluster, pelo que a opção metodológica que nos parece mais adequada é considerar, apenas, os clusters que demonstram homogeneidade do ponto de vista do assunto identificado, acontecimento ou ‘história’ relatada.
Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.
Descrição da amostra
Para a redação deste relatório foram considerados 4719 artigos, publicados em 17 fontes de informação jornalística[1], selecionados a partir de um total de, aproximadamente, 319 183 artigos.
A recolha de dados foi realizada na plataforma Priberam e a organização das histórias noticiosas em clusters é realizada em dois passos: Um primeiro agrupamento é feito pelo algoritmo da plataforma, que devolve um ‘TOP 50’ com os clusters mais publicados. Num segundo momento, foi realizado um reagrupamento desse ‘TOP 50’ com recurso a técnicas de análise de conteúdo que aplicam uma análise ‘fina’ aos dados, resultando no quadro final de clusters apresentado neste relatório.
Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.
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Licença de utilização
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.
[1] CNN Portugal, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Expresso, Jornal de Notícias, Jornal i, Jornal SOL, Multinews, Notícias ao Minuto, Observador, Público, Rádio Renascença, RTP, SIC Notícias, TSF, TVI-Notícias, Visão.