Barómetro: as ‘histórias’ noticiosas de junho de 2022

O desgaste da guerra na Ucrânia repercute-se na cobertura noticiosa que mantém uma tendência decrescente desde abril, em termos relativos. Problemas de (e na) saúde representaram 17%, na amostra, e a COVID-19 mostra sinais de regresso à atenção mediática.

Por Ana Pinto Martinho, Décio Telo e Gleice Luz

A versão integral deste relatório está disponível em PDF.

Militar ucraniano em posição de combate, Severodonetsk, 19/06/2022 (EPA/OLEKSANDR RATUSHNIAK)
Militar ucraniano em posição de combate, Severodonetsk, 19/06/2022 (EPA/OLEKSANDR RATUSHNIAK)
Marta Temido numa conferência de imprensa sobre a Vacinação outono/inverno, Lisboa, 08/06/2022 (TIAGO PETINGA/LUSA)
Marta Temido numa conferência de imprensa sobre a Vacinação outono/inverno, Lisboa, 08/06/2022 (TIAGO PETINGA/LUSA)
Funcionário da Funai durante protesto pelo desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira Araújo, Brasil, 14/06/2022 (EPA/JOEDSON ALVES)
Funcionário da Funai durante protesto pelo desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira Araújo, Brasil, 14/06/2022 (EPA/JOEDSON ALVES)

As ‘histórias’ que marcaram as notícias online

Desgaste na guerra e na cobertura noticiosa

O prolongamento da guerra no mês de junho, quando se ultrapassou 100 dias desde o início da invasão russa, mostra sinais de desgaste na frente da batalha.

Na mesma linha, a cobertura nos órgãos de comunicação social generalistas tem vindo a perder peso relativo na amostra, desde abril. Em movimento contrário, a COVID-19, que quase deixou de ser noticiada em abril, tem vindo a recuperar alguma ‘atenção’ mediática nos últimos dois meses.

A narrativa da guerra na Ucrânia manteve a mesma linha do mês anterior, mas em proporções diferentes. Houve um incremento de artigos sobre operações e ações militares (clusters destacados a azul no gráfico abaixo), que este mês representaram, aproximadamente, duas em cada três notícias sobre a Ucrânia. A crise alimentar e o risco de fome global teve um impacto menor (21%), no mês anterior este tema tinha representado aproximadamente 50% da subamostra.

O assassinato de Phillips e Pereira na Amazónia e a morte de Paula Rego

Para além das notícias sobre Ucrânia e saúde sobressaem dois clusters que marcaram a agenda noticiosa. O desaparecimento de Dom Phillips (jornalista britânico) e Bruno Pereira (especialista brasileiro em indígenas isolados) foi o acontecimento disruptivo que, isoladamente, se destacou em junho com 280 artigos publicados em 17 órgãos de comunicação, seguido pela notícia do falecimento de Paula Rego (224 documentos).

Ambos correspondem a eventos com cobertura muito intensa durante curto período de tempo. No caso de Paula Rego, estima-se que no dia da sua morte, 8 de junho, tenham sido publicados, na amostra, 169 artigos.

Clusters de notícias com maior destaque online

O quadro acima permite visualizar a proporção de cada agrupamento de notícias (cluster) no conjunto dos 46 clusters que mais se destacaram neste mês. Estes resultam de um trabalho de análise e reagrupamento semântico realizado no conjunto, mais alargado, de 50 clusters, identificados pelo algoritmo da plataforma Priberam. Esta operação de reagrupamento é realizada com recurso a metodologias de análise de conteúdo. Deste trabalho resulta que a quantidade de clusters apurados, no relatório, é sempre igual ou inferior ao ‘top 50’ gerado pelo algoritmo.

Apesar da elevada precisão dos clusters classificados automaticamente pelo algoritmo (cf. Miranda et al, 2018), alguns deles podem apresentar características polissémicas, por diversos motivos, tornando difícil a tomada de decisão final quanto à inclusão num determinado cluster, pelo que a opção metodológica que nos parece mais adequada é considerar, apenas, os clusters que demonstram homogeneidade do ponto de vista do assunto identificado, acontecimento ou ‘história’ relatada.

Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.

Descrição da amostra

Para a redação deste relatório foram considerados 5475 artigos, publicados em 17 fontes de informação jornalística[1], selecionados a partir de um total de, aproximadamente, 302 346 artigos.

A recolha de dados é executada na plataforma Priberam e a organização das histórias noticiosas, em clusters, processa-se em dois passos: Um primeiro agrupamento é efetuado pelo algoritmo, que devolve um ‘TOP 50’ com os clusters mais publicados. Num segundo momento procede-se ao reagrupamento desse ‘TOP 50’, com recurso a técnicas de análise de conteúdo, que permitem uma observação ‘fina’ dos dados, resultando no quadro final de clusters apresentado neste relatório.

Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.

A versão integral deste relatório está disponível em PDF.

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[1] CNN Portugal, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Expresso, Jornal de Notícias, Jornal i, Jornal SOL, Multinews, Notícias ao Minuto, Observador, Público, Rádio Renascença, RTP, SIC Notícias, TSF, TVI-Notícias, Visão.