Por Guya Accornero, ISCTE-IUL
Como é de costume o barómetro desta altura do ano é dominado pelos incêndios, que até empurram o futebol para um inusual 5º lugar. As eleições sobem sete lugares, passando a ser o 2º assunto com maior destaque noticioso, logo antes da prevista greve dos motoristas de matérias perigosas e das polémicas em torno do fundo REVITA.
Estamos a falar de incêndios, mais uma vez, e mais uma vez não me é claro o que falta para os conter, antes que aconteçam. Não sou uma especialista e também não me documentei o suficiente sobre o tema, confesso, mas sempre oiço falar desta coisa da ‘política florestal’, que tem que ser enfrentada e aplicada com tempo para prevenir o problema. Percebi, pelo que li, que a tal política florestal não se faz de um dia para outro, que requer um planeamento, análises técnicas, competências e recursos. Com interesse li o artigo de Anselmo Crespo no DN (“Como sobreviver aos incêndios em ano de eleições”, Diário de Notícias, 25 de Julho). Sintético, claro e pertinente. Percebi algumas coisas, parece-me. Então fui lá eu ler o programa eleitoral do partido ao governo e que, segundo todas as sondagens, parece que irá continuar a sê-lo: o PS.
Procurei a palavra ‘incêndio’ e descobri que sim, há uma política florestal, no documento, para desenvolver com relação aos fogos rurais – e não apenas – e parece-me muito bem articulada: fala-se do papel das autarquias locais, do melhoramento da coordenação entre os diferentes níveis, da compra de novos meios. Isso mesmo diz-se: ‘Concretizar até 2023 a aquisição de meios aéreos próprios para combate a incêndios rurais, de acordo com as prioridades definidas pela ANEPC e pela Força Aérea’. Novos meios, muito bem pensei. Mas algo ainda não me batia certo. Voltei, então, ao tal artigo antes mencionado e também me lembrei de muitas páginas lidas nos anos passados sobre este problema: ‘os meios aéreos continuam a ser contratualizados com atrasos e sempre em défice’.
Este foi um problema também nos recentes fogos do início de julho e sim, temos que admitir, resolvido para os ainda mais recentes fogos do passado fim de semana. Mas porquê, então, um problema tão claro e constante ser enfrentado cada ano de forma pontual e se planeia resolvê-lo num modo mais estrutural apenas até 2023, isto é, seis anos depois de uma das piores catástrofes do país?
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Ficha técnica
O Barómetro de Notícias é desenvolvido pelo Laboratório de Ciências de Comunicação do ISCTE-IUL como produto do Projeto Jornalismo e Sociedade e em associação com o Observatório Europeu de Jornalismo. É coordenado por Gustavo Cardoso, Décio Telo, Miguel Crespo e Ana Pinto Martinho e a codificação das notícias é realizada por Carla Mendonça com o apoio de Leonor Cardoso. Apoios: IPPS-IUL, Jornalismo@ISCTE-IUL, e-TELENEWS MediaMonitor / Marktest 2015, fundações Gulbenkian, FLAD e EDP, Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação, LUSA e OberCom.
Análise de conteúdo realizada a partir de uma amostra semanal de aproximadamente 413 notícias destacadas diariamente em 17 órgãos de comunicação social generalistas. São analisadas as 4 notícias mais destacadas nas primeiras páginas da Imprensa (CM, PÚBLICO, JN e DN), as 3 primeiras notícias nos noticiários da TSF, RR e Antena 1 das 8 horas, as 4 primeiras notícias nos jornais das 20 horas nas estações de TV generalistas (RTP1, SIC, TVI e CMTV) e as 3 notícias mais destacadas nas páginas online de 6 órgãos de comunicação social generalistas selecionados com base nas audiências de Internet e diversidade editorial (amostra revista anualmente). Atualmente fazem parte da amostra as páginas de Internet do PÚBLICO, Expresso, Observador, TVI24, SIC Notícias e JN.
Imagem de destaque: PAULO NOVAIS/LUSA