Não houve muito espaço mediático para acontecimentos, para além da guerra. Mesmo notícias relacionadas com desporto e economia foram contagiadas pela narrativa da invasão russa na Ucrânia. Política nacional – sobretudo, na dimensão partidária – e Covid-19 não alcançaram visibilidade jornalística relevante.
Por Ana Pinto Martinho, Décio Telo e Gleice Luz
A versão integral deste relatório está disponível em PDF.
As ‘histórias’ que marcaram as notícias online
Um mês de guerra
A guerra na Ucrânia dominou, por completo, a agenda noticiosa portuguesa. Para além da narração ininterrupta dos acontecimentos profundamente negativos que ocorreram por força da invasão russa em curso, várias ‘histórias’ noticiosas foram surgindo, contagiadas por ou, de alguma forma, relacionadas com esse contexto. Do adiamento de jogos de futebol à subida de preços, tudo parece ligar-nos à Guerra, que completou o primeiro mês em março.
Muito futebol, Liga dos Campeões a dar o mote
Antecipação de jogos de futebol, resultados das equipas portuguesas (e não só) e passagem do Sport Lisboa e Benfica aos quartos-de-final da UEFA Champions League. Três ‘histórias’ dominaram por completo a cobertura desportiva nas páginas Web dos órgãos de comunicação social, com uma pequena exceção para o desempenho dos tenistas portugueses na Taça Davis, evento que também aconteceu em março.
Subida de preços, instabilidade energética e inflação
Os efeitos indiretos da guerra fizeram-se sentir desde muito cedo, mas em março, vários clusters temáticos permitiram inferir que esta ‘história’ dominante normaliza-se nos noticiários quotidianos e contamina, sobretudo, as notícias sobre economia. Em particular, neste mês, revelaram-se a inflação, a instabilidade do setor energético e, embora ainda residual, a preocupação crescente com a produção e distribuição alimentar, a nível global.
Clusters de notícias com maior destaque online
O quadro acima permite visualizar a proporção de cada agrupamento de notícias (cluster) no conjunto dos 49 clusters que mais se destacaram em fevereiro de 2022. Estes resultam de um trabalho de análise e reagrupamento semântico realizado no conjunto, mais alargado, de 50 clusters, identificados pelo algoritmo da plataforma Priberam. Esta operação de reagrupamento é realizada com recurso a metodologias de análise de conteúdo. Deste trabalho resulta que a quantidade de clusters apurados, no relatório, é sempre igual ou inferior ao ‘top 50’ gerado pelo algoritmo.
Apesar da elevada precisão dos clusters classificados automaticamente pelo algoritmo (cf. Miranda et al, 2018), alguns deles podem apresentar características polissémicas, por diversos motivos, tornando difícil a tomada de decisão final quanto à inclusão num determinado cluster, pelo que a opção metodológica que nos parece mais adequada é considerar, apenas, os clusters que demonstram homogeneidade do ponto de vista do assunto identificado, acontecimento ou ‘história’ relatada.
Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.
Descrição da amostra
Foram considerados 13.668 artigos, publicados em 16 fontes de informação jornalística[1] para a realização deste relatório, selecionados a partir de um total de, aproximadamente, 334.987 artigos. Por motivos técnicos, Expresso e SIC Notícias online, do grupo Impresa, não fizeram parte da amostra de janeiro.
A recolha de dados foi realizada na plataforma Priberam e a organização das histórias noticiosas em clusters é realizada em dois passos: Um primeiro agrupamento é feito pelo algoritmo da plataforma, que devolve um ‘TOP 50’ com os clusters mais publicados. Num segundo momento, foi realizado um reagrupamento desse ‘TOP 50’ com recurso a técnicas de análise de conteúdo que aplicam uma análise ‘fina’ aos dados, resultando no quadro final de clusters apresentado neste relatório.
Poderá consultar a secção de metodologia para mais detalhes sobre como o barómetro é construído.
A versão integral deste relatório está disponível em PDF.
Licença de utilização
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.
[1] CMTV, CNN Portugal, Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, Jornal i, Jornal SOL, Multinews, Notícias ao Minuto, NOVO, Observador, Público, Rádio Renascença, RTP, TSF, Visão.