O projeto Monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais, desenvolvido no MediaLab ISCTE IUL, está a efetuar semanalmente a caracterização dos posts com conteúdo político que, dentro do conjunto de grupos de Facebook analisado, obtiveram o maior número de interações. Seguem alguns exemplos deste processo, com o link de acesso, a respetiva caracterização (segundo a rotulagem do projeto) e categorização (segundo as categorias do First Draft News, de Claire Wardle), assim como a justificação para ambas as tipificações.
Da totalidade de posts analisados distinguem-se:
- 65% de posts em que não existem conteúdos imprecisos ou incorretos, quer pela sua natureza, quer pelo rigor dos factos apresentados;
- 25% de posts com conteúdo impreciso, que pode induzir o recetor em erro.
- 10% de posts com conteúdo incorreto, desinformando o recetor
Sócrates e Mercedes
Caracterização: Cópia seletiva – no link
Categoria: Não aplicável.
Justificação: O artigo em link do site Magazine Lusa não tem data, mas o código fonte da página indica que foi publicado a 29 de setembro de 2019.
Trata-se de uma cópia selectiva de um artigo da Sábado sobre a actual vida de Sócrates, publicado a 26 de setembro. Nesse artigo há um pequeno parágrafo sobre a viatura conduzida por José Sócrates que é replicado na íntegra. As aspas em redor do termo cunhado, com a sugestão de interpretação associada, também são copiadas do artigo da Sábado.
Costa e idoso
Caracterização:
Factos imprecisos – no texto do post
Acusações não fundamentadas – no link
Título impreciso – no link
Factos imprecisos – no link
Categoria: Misleading content
Justificação:
Tanto o texto do post como o artigo em link contêm algumas acusações não fundamentadas e uma interpretação não fundamentada de que António Costa tinha como objetivo agredir o cidadão que o abordou. O vídeo, uma reportagem televisiva da CMTV, foi adulterada para conter o texto no topo: “António Costa tenta agredir cidadão que discorda dele”.
Guterres e a subvenção
Caracterização:
Acusações não fundamentadas – no texto do post
Acusações não fundamentadas – no link
Categoria: Não aplicável.
Justificação:
Não foi considerado conteúdo desinformativo pese embora tanto o texto do post como o link contenham algumas acusações não fundamentadas.
Artigo em link é de 3 de setembro e surge na sequência da divulgação das listas das subvenções vitalícias.
O Polígrafo já tinha escrito um artigo confirmando que António Guterres recebe a subvenção para além do seu ordenado da ONU porque a lei assim o permite.
Queixa crime contra idoso
Caracterização:
Acusações infundamentadas – no texto do post original
Acusações não fundamentadas – no texto do post original
Imagem manipulada – no link (foto)
Spin de imagem – no link (foto)
Categoria: Imposter content
Justificação:
Partilha de uma foto que parece ser de uma notícia de OCS sobre a situação envolvendo idoso e António Costa. No comentário original à foto, surge a acusação infundamentada de ligar o PS a um regime ditatorial.
A notícia original, cujo título corresponde ao da foto, tem uma imagem bem diferente da escolhida. Não obstante tratar-se de uma imagem do momento em questão, e por isso mesmo não descontextualizada, houve uma manipulação do conteúdo original com o objetivo de passar uma mensagem.
Salvador de crianças judaicas
Caracterização:
Reciclagem – no post
Timing fora de contexto – no post
Categoria: False context
Justificação:
Reciclagem de artigo de 1 julho de 2015 sobre a morte, naquele mesmo dia, de Nicholas Winton, britânico líder de uma organização que na Segunda Guerra Mundial salvou centenas de crianças judaica.
Ao ler os comentários à publicação, torna-se evidente que ninguém abriu o link ou viu a data do artigo.
Ricardo Salgado
Caracterização:
Reciclagem – no post
Timing fora de contexto – no post
Categoria: False context
Justificação:
Artigo de dezembro de 2018 do Tuga Press, baseado num artigo do Jornal de Notícias sobre a anulação de uma acusação de contra-ordenação do Banco de Portugal contra Ricardo Salgado.
Trata-se de uma reciclagem de uma notícia já antiga, e que não corresponde ao principal processo contra o antigo gestor do BES, não obstante o que o texto do post indicia.
Apelo ao Juiz
Caracterização:
Reciclagem – no post
Acusações não fundamentadas – no link
Categoria: Não aplicável
Justificação:
Não obstante se tratar de um link de setembro de 2016, por se tratar de um artigo de opinião, apenas com algumas acusações não fundamentadas, não foi considerado descontextualizado e por esse motivo, não é classificado como desinformativo.
Costa e idoso II
Caracterização: Nada a registar
Categoria: Não aplicável
Justificação:
Não obstante existir uma sugestão de interpretação, não foi considerado conteúdo desinformativo.
Ivo Rosa
Caracterização:
Acusações infundamentadas – no texto do post
Título incorreto – no link
Categoria: False connection
Justificação:
Texto com algumas acusações não fundamentadas com link para para artigo que é uma cópia de notícia do Correio da Manhã do mesmo dia da publicação (5 de outubro).
O título tanto do artigo do Correio da Manhã como depois na versão do Eco Sapo está incorreto e não corresponde ao conteúdo do mesmo, porque a palavra “fecho” induz à ideia de perda de acesso, quando na realidade apenas houve um incremento nos processos burocráticos necessários ao acesso do mesmo.
Sexta às 9
Caracterização:
Reciclagem – no post
Acusações não fundamentadas – no texto do post
Acusações infundamentadas – no texto do post
Factos incorretos – no texto do post
Acusações não fundamentadas – no link
Acusações infundamentadas – no link
Reciclagem – no link
Factos imprecisos – no link
Factos incorretos – no link
Categoria: False context
Justificação:
O texto do post tem algumas acusações não fundamentadas e infundamentadas e algumas sugestões de interpretação incorretas pondo em causa do aquecimento global e afirmando que a suspensão do sexta às 9 foi um acto de censura.
O link é para um artigo da Direita Política de 3 de outubro que repete algumas das principais ideias e copia parágrafos inteiros já apresentados em outro artigo sobre o mesmo tema de 17 de setembro.
O artigo, tal como o anterior, contém algumas acusações não fundamentadas sobre a saída de Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz. Mais grave, o artigo contém factos falsos, que embora estejam escritos como sugestões de interpretação, não correspondem à verdade:
-Portugal tem os salários mais baixos da UE – segundo a Eurostat não corresponde, nem se tivermos em conta o salário mínimo, nem o poder de compra.
– Combustíveis mais caros do mundo – No último estudo apresentado pelo Deutsche Bank, Portugal encontrava-se em 10º lugar, depois de países como a Grécia.
– Vai inevitavelmente conduzir-nos à bancarrota – inferência causal infundamentada
-4ª bancarrota oferecida pelo PS – em 1983 tratava-se de um governo do Bloco Central, com PS e PSD.
É de referir no entanto que as restantes acusações surgem sustentadas por uma investigação da Sábado. A primeira de que não se trata de uma regular interrupção do programa como o canal alega, e segunda de que Maria Flor Pedroso é familiar por afinidade de António Costa e que terá de facto uma relação próxima com o PM.
A inferência causal descrita no meme de anexo à imagem de que a interrupção é uma consequência direta desta relação familiar é que surge como outra acusação não fundamentada.
Sócrates e Ivo Rosa
NOTA: Este link já tinha surgido na primeira semana de análise do MediaLab. Agora, ao abrir a publicação, surge um artigo fact-checking anexado ao post, uma nota positiva.
Caracterização:
Título incorreto – no link
Factos incorretos – no link
Cópia selectiva – no link
Imagem manipulada – no link
Categoria: False context
Justificação:
Artigo de 9 de setembro de Mário Gonçalves que é uma cópia seletiva de um artigo do Observador, alterando o título e a imagem. O título tem factos incorretos e a imagem é manipulada, conforme verifica também o próprio Observador, num despiste que faz deste artigo, onde destaca que ao contrário da afirmação de Mário Gonçalves, Ivo Rosa e José Sócrates não serão amigos.
NOTA METODOLÓGICA
Esta despistagem analisa os 20 posts com mais interacções publicados nos grupos públicos de Facebook monitorizados pelo projeto Monitorização de propaganda e desinformação nas redes sociais na semana de 29 de setembro a 05 de outubro 2019.
Cada um desses 20 posts foi analisado para determinar a sua veracidade, em primeiro lugar, e – no caso de incluir desinformação – que tipos de desinformação lhe estão associados.
Para caracterizar a desinformação é usada uma nomenclatura desenvolvida pelo projeto e para os categorizar recorre-se aos 7 tipos de desinformação do First Draft.
A identificação das pessoas que publicaram os posts nos grupos monitorizados foi ocultada por razões de privacidade.
Coordenação: Gustavo Cardoso
Codificação e análise: Inês Narciso
Este projeto de investigação é realizado em parceria com o Diário de Notícias e com o apoio do Democracy Reporting International.